Uma ideia puxa outra

Patinho Feio gerou dissertações, teses e outros projetos de pesquisa.

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O professor Hélio Guerra liderou o projeto do Patinho Feio.


Intrinsicamente ligado a uma área de conhecimento que emergia no Brasil da época, o processo de criação do Patinho Feio entre 1971 e 1972 gerou uma série de teses e dissertações desenvolvidas pelos integrantes da equipe responsável pela construção do primeiro computador brasileiro. “O Patinho Feio nasceu dentro da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Sua origem é acadêmica”, diz o professor Antônio Hélio Guerra Vieira, coordenador geral do projeto.

De acordo com Lucas Moscato, um dos integrantes do projeto e hoje professor do Departamento de Engenharia Mecatrônica e de Sistemas Mecânicos da Poli-USP, a equipe do Patinho Feio foi dividida em grupos de trabalho. “Cada um deles cuidou de uma parte: central de processamento, software, sistema de entrada e saída, além da memória”, lembra.

Com o sucesso do projeto, as temáticas nortearam trabalhos de pesquisa que fizeram aumentar a importância do Patinho para o desenvolvimento científico e tecnológico da informática no Brasil.
No time liderado por Moscato, por exemplo, responsável pelas interfaces de entrada e saída, os então estagiários Wilson Ruggiero e Stephan Kovach defenderam em 1975, respectivamente, as dissertações de mestrado “Projeto de um processador central microprogramado” e “Projeto de um sistema de entrada e saída de um minicomputador”.

Ruggiero e Kovach se tornaram posteriormente professores da Poli-USP. “O Patinho Feio reforçou para nós, estudantes, a essência da profissão de engenheiro. Ali, aprendemos não apenas a encontrar soluções para problemas difíceis, como entendemos a importância de construir engenhos que mostrassem a evidência clara e inequívoca de que aquela concepção de pesquisa, de inovação, havia sido materializada tecnologicamente e gerado um produto que pudesse contribuir para a sociedade”, aponta Ruggiero, professor do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais (PCS-Poli-USP).

Dentre as dissertações de mestrado realizadas pelos estagiários da equipe de software básico estão “Aspectos do projeto de software de um minicomputador”, de João José Neto, e “Automação de projetos de sistemas digitais: posicionamento de componentes”, de Selma Shin Shimizu Melnikoff, ambas defendidas em 1975.

Os dois pesquisadores também se tornaram professores da Poli-USP. “O Patinho Feio nos despertou esse espírito de querer fazer as coisas, de não ter medo de experimentar e de ser persistente. Isso a gente levou para outros projetos de pesquisa e para a nossa vida profissional”, diz Selma.

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O painel frontal do Patinho foi projetado por Antonio Massola.

Em suas dissertações de metrado, Selma e João José Neto foram orientados por Antônio Massola, hoje professor sênior do PCS-Poli-USP. No início da década de 1970 ele, já formado em engenharia, era do Laboratório de Sistemas Digitais, criado na Poli em 1968 pelo professor Antônio Hélio Guerra Vieira com apoio do então diretor da escola, Oswaldo Fadigas Fontes Torres.

Como integrante do Patinho Feio, Massola montou o painel frontal da máquina ao lado de colegas como Nelson Zuanella e também participou da equipe responsável pela confecção do software básico. Em 1974, defendeu a tese de doutorado “Automação de projetos de sistemas digitais: simulação em nível de portas lógicas”. “O Patinho Feio nos incentivou a fazer mais pesquisas e, na sequência, integrantes da equipe participaram de uma série de projetos aqui na Poli”, conta Massola. Dentre eles figuram a produção do computador G-10 e a automação do sistema de transporte ferroviário da antiga Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa).

O Patinho Feio utilizou uma memória de núcleo de ferrite da Philips. A meta inicial, entretanto, era que os pesquisadores do projeto desenvolvessem uma memória própria para a máquina. Entre outros motivos, o plano foi alterado para que o computador pudesse ficar pronto a tempo para a cerimônia de inauguração.

Edith Ranzini, que fez parte da equipe responsável pela memória do Patinho Feio, não abandonou a ideia. A pesquisadora (hoje professora sênior da Poli-USP) foi responsável pelo projeto e construção dos módulos de núcleo de ferrite do G-10, iniciado em 1972, quando confeccionou uma memória. A experiência está relatada em sua dissertação de mestrado “Projeto e ensaio de memórias de núcleos de ferrite”, defendida em 1975, sob orientação do professor Hélio.

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