Aprendizado que gerou frutos

Um dos grandes legados do Patinho Feio é contribuir para o ensino da engenharia de computação e de sistemas digitais no país

 
A professora Edith Ranzini e o professor Sidnei Martini: esforços do passado que continuam gerando benefícios.

“Aprender através da experiência” era um dos lemas do engenheiro estadunidense Glen Langdon Jr., especialista em protótipos de computador que ministrou um curso de pós-graduação em 1971, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

O curso está na gênese do projeto Patinho Feio e a filosofia do professor contagiou seus alunos. Além disso, o próprio Laboratório de Sistemas Digitais (LSD), espaço criado em 1968, na Poli-USP, e que seria o ‘ninho’ do Patinho Feio, tinha entre as metas formar professores para as diversas disciplinas com enfoque em computação oferecidas no então curso de Engenharia de Eletricidade.
“Todos os pesquisadores que trabalharam no Patinho Feio se qualificaram para o ensino desse campo que ensaiava os primeiros passos no país naquele momento. A gente aprendeu fazendo”, aponta Lucas Moscato, um dos integrantes do projeto e hoje professor do Departamento de Engenharia Mecatrônica e de Sistemas Mecânicos da Poli-USP. “Essa contribuição faz parte do legado do Patinho Feio para a engenharia nacional e em particular para a Poli”, prossegue Moscato. 

De acordo com Sidnei Martini, que também integrou o projeto do Patinho Feio e atualmente é professor sênior do departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais (PCS-Poli-USP), os experimentos não ficavam circunscritos ao laboratório. “Os professores da equipe já levavam informações sobre o projeto aos estudantes das disciplinas de graduação e até mesmo de pós-graduação. Era uma forma de disseminar o que estávamos experimentando e descobrindo”, relata.

O conteúdo reunido ao longo do projeto extrapolou as fronteiras da Poli-USP. Como registra a pesquisadora Marcia de Oliveira Cardoso, na dissertação de mestrado “O Patinho Feio como construção sociotécnica”, defendida no Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2003, “após a construção do minicomputador, o grupo participante desenvolveu algumas apostilas de exercícios e apostilas sobre a operação do computador construído”. O conteúdo foi reunido no livro “Projeto de computadores digitais”, lançado em 1974.

A publicação é assinada por Langdon e Edson Fregni, engenheiro então recém-formado que participou da equipe do projeto. Antes de sua edição, o manuscrito foi testado em um curso organizado pelos dois autores e pelo engenheiro Victor Penna da Rocha, e ministrado na ocasião para engenheiros e técnicos da fábrica da IBM no Brasil, em Campinas (SP).

“O professor Glen foi um grande mentor para mim”, conta Fregni. “Ele era muito solícito e estava sempre disponível para conversar sobre as dúvidas da equipe, mas não entregava de bandeja as respostas, porque queria que encontrássemos as nossas próprias soluções”.

O êxito do Patinho Feio, que foi seguido por outro projeto de computador na Poli, o G-10, atraiu a atenção dos estudantes. “Os alunos ficaram muito motivados com essas iniciativas; também queriam participar delas ou então criar novos projetos”, lembra Edith Ranzini, professora sênior da Poli-USP que integrou a equipe do Patinho Feio. “Além disso, todo mundo queria cursar sistemas digitais. Era a modalidade com maior nota de corte no vestibular”.

De acordo com Martini, o trabalho do grupo que gerou o Patinho Feio propiciou a criação de várias disciplinas. Isso, por sua vez, contribuiu para a formulação do curso de engenharia de computação na Poli-USP. O Laboratório de Sistemas Digitais “posteriormente, na década de 1990, se transformou no departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais”, diz o pesquisador.
Quando parou de funcionar, já há vários anos, o Patinho Feio foi levado para as dependências da diretoria da Escola Politécnica. Mas isso não significa que ele tenha sumido das salas de aula. “Até hoje costumo falar do Patinho Feio para meus alunos”, conta a engenheira Selma Shin Shimizu Melnikoff, professora do PCS e também integrante do projeto do primeiro computador brasileiro.
“É uma forma de mostrar para esses jovens como a tecnologia evoluiu ao longo dos últimos 50 anos e que os avanços de hoje são tributários de muito esforço que fizemos no passado”, finaliza a especialista.

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